A dor é um sinal vital clinicamente importante para a detecção e avaliação de inúmeras doenças, bem como indução do comportamento de precaução e, consequentemente, limitação de danos. No entanto, qualquer sintoma álgico, independente de sua natureza ou tempo de duração, é uma experiência desagradável e pode, muitas vezes, ser influenciado por vários fatores cognitivos, afetivos, culturais e ambientais, submetendo o indivíduo a alterações nos padrões do sono, apetite e libido, além de provocar irritabilidade, alterações da energia, diminuição da capacidade de concentração e restrições na capacidade para as atividades familiares, profissionais e sociais.
Em geral, a dor pode ser classificada de várias formas. Quanto à sua duração, pode ser aguda ou crônica. A dor aguda é uma dor de caráter fisiológico, onde surge repentinamente e tem duração limitada. É uma importante modalidade sensorial e manifesta-se transitoriamente durante um período relativamente curto, de minutos a algumas semanas, podendo durar até no máximo três meses, associada a lesões em tecidos ou órgãos causadas por inflamação, infecção ou traumatismo. Já a dor crônica, tem caráter patológico e geralmente está associada à destruição tecidual, não desaparecendo com o emprego dos procedimentos terapêuticos convencionais ou, mesmo, com a interrupção do estímulo doloroso. Costuma ser constante e, devido a sua longa duração, perde a função de sinal de alerta, levando o paciente frequentemente ao comprometimento funcional, sofrimento, estresse e perda da qualidade de vida. Ainda não há um critério definido para o tempo de início da dor crônica. Na prática clínica, se utiliza como regra uma duração acima de três meses.
Do ponto de vista fisiopatológico, a dor pode ser nociceptiva, neuropática ou nociplástica. A por nocicepção ocorre por lesão e ativação dos nociceptores (receptores somatossensoriais especializados em detectar estímulos dolorosos) que transmitem os impulsos para a medula espinal e para os centros supraespinhais. A dor neuropática, por sua vez, é aquela provocada por uma lesão primária ou disfunção do sistema somatossentivo. Já a dor nociplástica é a dor relacionada à nocicepção alterada a despeito da clara evidência de que não há dano tecidual real ou potencial causado por ativação dos nociceptores periféricos ou evidências de lesão no sistema somatossensorial.
Apesar dos grandes avanços, principalmente no diagnóstico por imagem, é muito importante destacar a história clínica e o exame físico minuciosos do paciente com dor. Os objetivos da avaliação da dor são estabelecer os elementos determinantes ou contribuintes para o quadro, esclarecer as limitações e os sofrimentos advindos desse sintoma, nortear a escolha das intervenções analgésicas e verificar a efetividade das intervenções implementadas. Uma avaliação adequada da dor deve incluir a investigação de sua localização, intensidade, início, duração e periodicidade dos episódios dolorosos, além de sua qualidade sensitiva, padrão evolutivo, fatores agravantes ou atenuantes e a presença ou ausência de outros sintomas associados. Além disso, é indispensável para o planejamento e adequação da terapia analgésica uma aferição precisa da intensidade dolorosa. Em adição, o conhecimento de todos os locais dolorosos, a análise em conformidade com a distribuição nervosa da região e a identificação de possíveis grupos musculares envolvidos, podem ajudar a compreender a etiologia e a magnitude do quadro, podendo, assim, direcionar o melhor tipo de tratamento.
Após uma adequada caracterização da dor, em alguns casos, faz-se necessário a utilização de exames subsidiários no auxílio dos possíveis diagnósticos diferenciais. No entanto, reforça-se a ideia de que estes não devem substituir uma história clínica detalhada e um exame físico minucioso. A solicitação de exames complementares deve ser direcionada pela suspeita clínica formulada durante a história e exame físico.
A escolha do melhor tratamento deve ser direcionada de maneira individual para cada paciente com base na avaliação meticulosa da fenomenologia e fisiopatologia da dor e nos objetivos, metas, preferências e expectativas do paciente. Toda dor, seja ela aguda ou crônica, deve ser tratada de forma integral e com dedicação exclusiva, a fim de melhorar a qualidade de vida do paciente. O médico especialista em dor é o profissional capaz de oferecer o melhor acompanhamento e tratamento possível direcionado ao tipo e ao local específico da dor.
Referências: