Neuralgias


Também chamadas de nevralgias, as neuralgias são dores provenientes de alguma disfunção nos nervos periféricos, seja por causas mecânicas (compressão, traumatismo), genéticas ou, mesmo, infecto-metabólicas (vírus da varicela zoster, alcoolismo, diabetes). Além de possuírem características peculiares e específicas, provocam desconforto e sofrimento muito intenso ao paciente. Na grande maioria das vezes, são descritas como sensação de choque, pontada, queimação, apunhalada ou até mesmo facada, surgindo de maneira repentina e acometendo todo o território de distribuição do nervo afetado. Dentre as principais neuralgias estão a neuralgia do trigêmeo, a neuralgia pós-herpética e a neuralgia do nervo ciático (ciatalgia).

A neuralgia do trigêmeo é uma das dores neuropáticas mais comumente encontradas na região da cabeça e pescoço. Sua incidência varia de 12,6 a 27 casos a cada 100.000 pessoas ao ano, sendo mais comum em mulheres e idosos. Por gerar uma dor excruciante, afeta de maneira dramática a qualidade de vida dos pacientes acometidos.

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O nervo trigêmeo (V) é o quinto e maior de todos os nervos cranianos, sendo responsável por detectar os estímulos sensoriais que surgem na face e parte do crânio. É dividido em três ramos, onde cada um é responsável pela inervação de determinada região. Os ramos oftálmico (V1) e maxilar (V2) contém apenas fibras sensitivas, enquanto o ramo mandibular (V3) possui tanto fibras sensitivas quanto fibras motoras. O ramo oftálmico (V1) é responsável pela inervação da fronte, nariz e das regiões oftálmicas da face. O ramo maxilar (V2), por sua vez, carreia sensibilidade da pele e tecido subcutâneo do lábio superior, asa do nariz, bochecha, pálpebra inferior, região temporal, mucosa do véu do palato, abóbada palatina, amígdala, seio maxilar, fossa nasal, gengiva, polpas dentárias superiores, periósteo da órbita e dura-máter da fossa cerebral média. Já o ramo mandibular (V3) permite a inervação sensitiva da fossa temporal, mento, mandíbula, porção anterior do pavilhão auricular (exceto lóbulo), porção anterosuperior do conduto auditivo externo e membrana timpânica, inervando, também, os dois terços anteriores da língua, soalho da boca, mastóide, polpas dentárias inferiores, gengiva, articulação têmporo-mandibular e dura-máter da fossa posterior.

O diagnóstico da neuralgia do trigêmeo é eminentemente clínico, baseado na sintomatologia relatada pelo paciente. Costuma ser caracterizada por uma dor forte descrita como latejante, queimação ou choque elétrico, que segue o trajeto de uma ou mais divisões do nervo trigêmeo, podendo ser uni ou bilateral. As crises são relatadas como de curta duração, variando de segundos até minutos, com severidade e frequência bastante variáveis, de poucos até vários episódios ao dia, sendo deflagrada, em muitos casos, por estímulos sensoriais inócuos, como, por exemplo, quando o indivíduo toca ou manipula determinadas áreas da face situadas ipsilateralmente à dor. Além disso, os ataques podem ser acompanhados por salivação, ruborização da face, lacrimejamento, ou mesmo, rinorréia.

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Atualmente, existem diversas modalidades terapêuticas para a neuralgia do trigêmeo, variando desde o uso de medicamentos ou procedimentos clínicos não invasivos, até procedimentos cirúrgicos, que costumam ser indicados quando os pacientes não respondem aos tratamentos clínicos ou quando há detecção de compressão vascular por exames de imagem. Dentre as técnicas cirúrgicas mais utilizadas, estão a alcoolização, microdescompressão vascular, eletrocoagulação percutânea e a termocoagulação com radiofreqüência. A escolha do melhor tratamento é direcionada de maneira individual para cada paciente.

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